Sustentabilidade chega à cadeia de suprimentos

Tonatiuh Barradas

A plataforma SAP Business Network tem uma participação de 6 milhões de empresas de 190 países e gerou, em 2020, um volume de transações de quase US$ 4 trilhões, revelou Tonatiuh Barradas, vice-presidente sênior da SAP para a América latina.

Acompanhar e rastrear o ciclo de vida de produtos — da compra de matéria-prima, criação e fabricação à entrega — está longe de ser simples. Contudo, empresas de diferentes portes, atentando-se à necessidade de instituir uma base de sustentabilidade e garantir que todo o processo cumpra requisitos pré-estabelecidos, estão adotando soluções que visam a monitorar a rede de parceiros comerciais, unificando todos os pontos de interação. Ao contar com uma rede inteligente, as companhias podem, por exemplo, avaliar critérios e indicadores ESG (do inglês environmental, social and corporate governance) e definir peso para esses critérios no momento da decisão de compra, garantindo, assim, que suas práticas e produtos, de fato, obedeçam critérios de sustentabilidade.

“A plataforma SAP Business Network possibilita à empresa entender o que está acontecendo no mundo exterior Dentro desta visão consigo entender partes do processo produtivo; consigo acompanhar e ter dados de emissão de carbono, se existem componentes de mão de obra escrava, se há participação das mulheres na liderança, quais são compromissos de reciclagem”, explica Tonatiuh Barradas, vice-presidente sênior e líder de rede de negócios e gastos inteligentes da SAP para a América Latina, para América Latina, em entrevista à Agência SAP NOW.

Atualmente, a SAP Business Network tem uma participação de 6 milhões de empresas de 190 países e gerou, em 2020, um volume de transações de quase US$ 4 trilhões. “É uma rede na qual as empresas estão interconectadas e isso cria possibilidade de ter acesso com quem se quer efetuar transações. Além de possibilitar esse comércio, também consegue acompanhar e entender o nível de compromisso com a sustentabilidade”, detalha Barradas.

A colaboração inclui todos os parceiros comerciais da cadeia de suprimentos, como fornecedores, prestadores de serviços e logística, operadores de ativos, pessoal terceirizado de manutenção e outros.  O SAP Business Network oferece três soluções para colaboração com seus parceiros comerciais: o Ariba Network, o SAP Logistics Business Network e o SAP Logistics Business Network. “O tema da sustentabilidade não é uma  moda. Acredito que todos nós temos interesse e compromisso em criar uma sociedade que, desde toda perspectiva, esteja alinhada às práticas ESG”, ressaltou Barradas.

ESG em voga nas empresas brasileiras

Diante dessa nova realidade de entender e monitorar o impacto ambiental e social, a Votorantim Cimentos está usando, desde 2017, a plataforma SAP Ariba para gerenciar os fornecedores cadastrados e também para ampliar a sua visibilidade sobre a conformidade dos seus parceiros em relação a práticas ambientais e sociais. O levantamento chamado de Censo de Fornecedores tem o objetivo de definir os critérios e minorias que devem ser priorizadas nos processos de compra da companhia para ampliar a base de fornecedores com impacto social.

Como utiliza critérios de sustentabilidade em suas decisões de compras, a Votorantim Cimentos, no processo de homologação e re-homologação, os parceiros são convidados a preencher uma pesquisa que questiona questões de gênero e raça da liderança, contratação de pessoas com deficiência e atuação no desenvolvimento da comunidade local.

O Programa Suprimentos Sustentável, iniciado em 2020, busca adequar as práticas de compras da Votorantim Cimentos para garantir que nenhum fornecedor descumpra a legislação ou as normas de compliance da empresa. Ao mesmo tempo, o programa impulsiona benefícios socioambientais para a empresa pela área de suprimentos, por exemplo, gerando renda nas localidades em que a empresa atua; reduzindo a pegada de carbono na cadeia de suprimentos e aumentando a diversidade e inclusão no perfil dos fornecedores da companhia.

O tema da sustentabilidade, afirmou Tonatiuh Barradas, da SAP, virou compromisso de todos. “Deixou de ser aspiração, se transformando em vocação real. Conduzimos um estudo de sustentabilidade na América Latina, onde ficou evidente que todo mundo — os que compram e os que manufaturam — estão comprometidos e existe uma formalidade com a sustentabilidade.

Realizada pela SAP com mais de 450 companhias de médio e grande portes no Brasil, Argentina, México e Colômbia, o estudo “Sustentabilidade na Agenda dos Líderes Latino-Americanos revelou que entre os presidentes e diretores entrevistados, 45% expressaram ter uma estratégia de sustentabilidade em suas organizações e 22% afirmaram estar em fase de implementação. No recorte de Brasil, os executivos se mostram um pouco mais conservadores, com índices de 42% e 19%, respectivamente. 

Os resultados mostraram também que seis em cada dez executivos latino-americanos consideram a sustentabilidade lucrativa. No Brasil, a parcela de executivos que concordaram que a sustentabilidade traz vantagem competitiva é de 41%, enquanto a média regional fica um pouco acima, com 46%.

A cadeia de valor é uma força que vem ganhando espaço na agenda de sustentabilidade. O estudo apontou que 27% dos consultados no Brasil já levam em consideração os esforços sustentáveis de um fornecedor na hora de fechar um contrato, ao passo que a média da região é de 19%.

“A sustentabilidade depende do compromisso das empresas. Nós, como empresas, temos não apenas a visão, mas os aplicativos e os sistemas para habilitar o cumprimento do compromisso”, acrescentou Barradas. 

Na mesma linha, uma pesquisa “Visão do Mercado Brasileiro sobre os Aspectos ESG” da Bravo Research apontou que as companhias ainda estão desbravando as questões ambientais, sociais e de governança — a famosa sigla ESG. A pesquisa entrevistou 139 executivos, dentre os quais 84% são líderes e gestores de médias e grandes companhias, e mostrou que para 93% dos respondentes a temática e as boas práticas de sustentabilidade podem proporcionar ganhos à organização como a valorização da empresa, fortalecimento de cultura, proximidade e conexão com seus clientes, consumidores, colaboradores e investidores.

No entanto, 54% deles ainda não possuem uma área dedicada ao ESG e ainda há uma parcela de 63% que não souberam quantificar a pretensão de investimentos. Dentre as empresas que ainda não possuem uma área dedicada com o papel de coordenador e facilitador da agenda ESG, 65% delas têm como objetivo, dentro dos próximos dois anos, a criação de uma área exclusiva e integral para assuntos relacionados ao ESG e à sustentabilidade.

Para os pesquisados, um dos cinco maiores desafios das organizações é a participação de todos: 67% dos entrevistados afirmam que a sensação é de que há ações concretas sendo realizadas em relação às boas práticas ESG, embora ainda pouco numerosas, mas acabam esbarrando em questões de engajamento, comunicação interna, métricas e indicadores, tecnologia para gerenciamento, além do fortalecimento da cultura voltada aos aspectos ESG da organização. Contudo, cerca de 41% dos respondentes disseram que a alta direção tem falado sobre o assunto e 66% afirmam que a empresa vem abordando internamente este tema, no entanto, ainda não é suficiente para que sintam reflexos na organização.

Com relação a investimentos, a pesquisa indicou que 74% dos entrevistados apontaram a faixa entre R$ 50 mil e R$ 300 mil como um possível orçamento, enquanto 14% objetivam investir mais de R$ 600 mil, e 8% acima de R$ 1 milhão. Além disso, 56% das empresas pretendem contratar serviços de consultorias nos próximos dois anos.


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