Paul Krugman: Economia moderna não precisa causar prejuízos ambientais

O vencedor do Nobel de Economia prevê que os mercados globais ainda enfrentarão tempos difíceis e afirma que a Covid-19 ensinou que é preciso estabelecer políticas de longo prazo se quisermos estabelecer uma economia mundial sólida e sustentável.

O vencedor do Nobel de Economia Paul Krugman prevê tempos difíceis pela frente. E acredita que o cenário imposto pela Covid-19 vem mostrar que é preciso repensar políticas para avançar no sentido de uma economia global moderna e sustentável. O posicionamento dele foi feito ao participar do SAP NOW 2020.

Em sua avaliação, a atual crise trouxe prejuízos muito mais avassaladores do que aqueles gerados por períodos de recessão econômica. “Vimos o maior número de empregos perdidos em um espaço de tempo tão curto. Além do desemprego em si, a Covid-19 também impede que consumidores gastem por conta do isolamento social e fechamento de setores não essenciais”, analisou.

Krugman prevê que muitos mais empregos serão perdidos nos próximos meses. “Ainda não estamos no pós-pandemia. Estamos atravessando a pandemia, e a falta de políticas pensadas para o médio prazo terá ainda muitas consequências negativas”, disse. Segundo ele, ainda que algumas economias tenham adotado medidas severas, estas não duraram tempo suficiente. “Bares reabriram muito rapidamente, muita gente não compreende e se sente lesada pela obrigatoriedade de uso da máscara, a demora do retorno às aulas também deve afetar a produtividade dos pais e até o aprendizado das crianças”, enumerou.

Além disso, diz o economista, as políticas criadas para ajudar empregadores a manterem seus colaboradores estão perto do fim, mesmo que as companhias ainda precisem do auxílio. “Devemos ver ainda mais desemprego”, comentou. “Os próximos meses devem ser preocupantes. Teremos um grande problema para ter a economia retomada: problemas pessoais, psicológicos e financeiros.”

Futuro

Krugman acredita que já em 2021 vejamos muito menos casos da nova doença. E coloca o grande questionamento: será que conseguiremos criar ambientes mais sustentáveis?

Para o especialista, a Covid-19 foi realmente fonte de aprendizado sobre os limites para os comportamentos egoístas. “Até pouco tempo atrás, acreditava-se que isso era fator que levava as pessoas a serem produtivas e alcançarem aquilo que almejavam”, disse. “No entanto, sempre foi claro, ao menos para quem estuda isso, que os interesses particulares nem sempre movem as pessoas para a produtividade”, assegurou.

Krugman considera que a pandemia deve nos ensinar que algumas restrições às vezes se fazem necessárias.

Economia moderna x impactos ambientais

A necessidade de se estabelecer uma economia mundial sustentável é, mais do que nunca, consenso no mercado. No entanto, há divergências quando a discussão é se a economia moderna passa necessariamente por impactar negativamente o ambiente. “Há quem não consiga dissolver esse link e veja essa ligação como motivo para não fazer nada ou para desistir da busca pelo crescimento econômico”, avaliou. “A verdade é que as duas coisas podem ser dissociadas.”

Usando a economia norte-americana como exemplo, Krugmam afirmou que o PIB do país mais do que dobrou entre 1973 e o início da pandemia. No mesmo período, o consumo de energia per capita diminuiu 16% e as emissões de CO2 foram reduzidas em 25%. “É a desvinculação da relação direta entre crescimento e estragos ambientais”, registrou.

Significa, na visão de Krugman, que é possível estabelecer uma grande economia mundial, moderna e sustentável, sem gerar impactos ambientais negativos. As novas tecnologias de energia renovável seriam, para o economista, o grande ponto de atenção.

Dever-se-ia tirar o aprendizado sobre a necessidade de políticas duradouras e empregá-lo nessa questão. “Já estamos lidando com as consequências das coisas que fizemos errado. Temos a lição de que é preciso agir, estabelecer políticas que incentivem o uso das tecnologias renováveis mais do que apliquem taxas sobre a queima de carbono”, sugeriu, acrescentando que a mudança para a economia sustentável deve acontecer de qualquer maneira. Cabe a nós decidirmos se queremos que seja algo lento ou uma mudança rápida e duradoura.

A pandemia mostrou que, mesmo de maneira forçada, existem alternativas mais sustentáveis. Para o economista, as viagens e o tráfego aéreo exacerbado do fim de 2019 não têm razão de ser. “Vimos que muitas dessas viagens a trabalho são desnecessárias. Todo o cenário atual nos mostrou que teremos grandes impactos positivos para a criação de uma economia sustentável”, afirmou.

Krugman disse ainda que a Covid-19 nos fez repensar e aprender que precisamos fazer mais do que apenas confiar na mágica do mercado. “As políticas que encorajam as pessoas a fazerem as coisas de maneiras diferentes podem ter muito mais sucesso do que a fórmula usada até aqui”, acrescentou. “A adaptabilidade das economias modernas é enorme. Podemos fazer isso funcionar. Ainda podemos ter economias modernas prósperas com todas as conveniências a que estamos acostumados.”